Jaime Gaspar Gralheiro
Jaime Gaspar Gralheiro
Faleceu a 20/06/2014 com 83 anos.
Nasceu a 7 de Julho de 1930, no lugar de Macieira (faldas do S. Macário) da freguesia de Sul, concelho de S. Pedro do Sul. Licenciou-se em direito pela Universidade de Coimbra. Fixou-se em S. Pedro do Sul em 1956, onde, desde 1958, passou a exercer a profissão de advogado; aí iniciou também a sua actividade artística (dramaturgo e encenador) e, a partir do princípio da década de 60, uma intensa actividade política contra o Regime Salazarista . Em 1971, juntamente com José de Oliveira Barata, Manuela Cruzeiro e um grupo de jovens, fundou o “Cénico – Grupo de Teatro Popular” de S. Pedro do Sul. No “Cénico” montou, para além de algumas das suas próprias peças, obras de Lorca, Suassuna, Gil Vicente, Molière Dias Gomes e outros. A seu primeiro exercício teatral, a que deu o título de Feia (1950), foi escrito quando tinha 20 anos. Em 1967 publicou, em edição de autor, um volume (TEATRO) onde reuniu as suas três primeiras peças Paredes Nuas (1962), Belchior (1963) eRamos Partidos, (1964), as quais, segundo a apreciação de Deniz-Jacinto, no prefácio, «tratam, em última análise, do problema da liberdade do indivíduo perante as inibições ou constrangimentos impostos pelo meio social».
Como político apoiou a apresentação da lista da Oposição Democrática pelo distrito de Viseu, em 1965, e integrou a lista de 1969.
Ao teatro de Jaime Gralheiro (desde a peça infantil Farruncha (1965), passando pelo conflito de ressonâncias pirandellianas, já com Brecht à mistura, pelo O Fosso (1967/68) e pela histórico-revolucionária Arraia-Miúda (1975), e pelo teatro popular de inspiração vicentina recriado, Na Barca com Mestre Gil (1973), até à versão teatral do romance de Manuel Tiago, Até Amanhã, Camaradas, sob o título de O Homem da Bicicleta (1977) e ao memorial do Tarrafal, Vieram Para Morrer (1978), ou à «revista dos feitos do século XVI», Onde Vaz, Luís? (1980), sem esquecer a sua Longa Marcha para o Esquecimento (1987) e O Grande Circo Ibérico (1996) parece aplicar-se com justeza a citação do famoso director teatral alemão Erwin Piscator que abre a colecção Teatro para as Quatro Estações, dirigida por Egito Gonçalves, da Editorial Inova: «O teatro de hoje, tal como eu o penso e pratico, não se pode limitar a produzir no espectador um efeito puramente artístico, ou seja, estético. [...] O teatro tem por missão intervir de uma maneira activa no curso dos acontecimentos, e preenche essa missão mostrando a história na sua evolução. [...] A missão do teatro de hoje não pode consistir apenas em relatar acontecimentos históricos, apresentados tal e qual. Deve tirar desses acontecimentos lições válidas para o presente, adquirir um valor de advertência mostrando relações políticas e sociais fundamentalmente verdadeiras, e tentar assim, na medida das suas forças, intervir no curso da história».
Foi o primeiro Presidente da Comissão Administrativa da CM de S. Pedro do Sul, após o 25 de Abril de 1974.
Para além das peças atrás referidas publicou uma de carácter infanto-juvenil E(h) Meu! (1998).
Das suas peças foram representadas no “Cénico” Na Barca com Mestre Gil, Arraia Miúda, O Homem da Bicicleta, D. Beltrão de Rebordão (inédita em livro), Onde Vaz. Luís? e E(h) Meu!
Recebeu, entre outros prémios, a Medalha de Mérito e Cultura do Ministério da Cultura; a Medalha de Instrução e Cultura da Federação Portuguesa das Colectividades de Cultura e Recreio; o Prémio de Carreira e a Medalha de Honra da Sociedade Portuguesa de Autores.
Em 2009 surpreendeu-nos com um grande painel em forma romanceada sobre os anos 60, a que pôs o título A Caminho do Nunca? ou Minha Loucura outros que me a tomem…”